Sobre

LUSODAT é uma base de dados sobre história da ciência, da medicina e da técnica em Portugal e Brasil, do Renascimento até 1900. Ela proporciona informações bibliográficas e, sempre que possível, a localização física de exemplares de obras de ciência, medicina e técnica, em Portugal e Brasil, até 1900.

A pesquisa realizada para a produção dessa base de dados inclui obras de autores portugueses ou brasileiros, assim como estrangeiros que tenham fixado residência em Portugal ou no Brasil nesse período, bem como traduções para o português de obras estrangeiras sobre os assuntos abordados.

Os tipos de obras que foram levantadas no projeto são: livros, folhetos, teses, manuscritos, mapas, periódicos e artigos publicados em periódicos.

Os principais assuntos abrangidos na base de dados são: medicina, farmácia, química (incluindo metalurgia, etc.), mineralogia, física, astronomia, geografia, matemática, história natural, agricultura, veterinária, navegação, engenharia e arquitetura, artes militares, educação, filosofia, filologia, história, sociologia, antropologia. Foram excluídas obras sobre religião, literatura de ficção (poesia, teatro, romances, etc.), obras jurídicas (e leis) e documentos históricos de pequena importância para o projeto (discursos, elogios de figuras públicas, relatórios). Estudos históricos, no entanto, são incluídos (desde que não sejam sobre história puramente religiosa, jurídica, etc.).

Foram incluídas descrições de viagens e descrições históricas gerais (como crônicas) do período, que são fontes essenciais para o estudo do desenvolvimento do conhecimento português nos campos científico e técnico. Obras sobre história militar foram incluídas, porque contêm informações sobre técnica e geografia. Obras relativas a tratados de fronteiras são importantes, por causa de informações geográficas.

Obras sobre artes, no sentido amplo (música, desenho, artesanato, culinária, etc.) foram incluídas por causa de sua eventual conexão com temas científicos e técnicos. No entanto, coletâneas de músicas não foram incluídas.

Algumas obras religiosas foram incluídas por sua relevância lingüística (por exemplo: textos religiosos em idiomas indígenas ou asiáticos). Obras com correspondência de missionários enviados à América e à Ásia são geralmente abrangidas porque contêm muitas informações geográficas, de história natural, sobre costumes de outros povos, etc. Obras jurídicas (e leis) diretamente relacionadas com ciência e técnica também foram adicionadas. Obras literárias que se relacionem diretamente com medicina, ciência e técnica (por exemplo, o “Auto dos físicos” de Gil Vicente) são incluídas.

As informações incorporadas à base de dados incluem não apenas trabalhos produzidos até 1900, mas também reedições posteriores de obras desse período. No caso de obras escritas por portugueses ou brasileiros, também foram coletadas informações sobre edições e traduções das mesmas publicadas em outros países.

A base de dados também incorporou dados biográficos sobre os autores das obras, do período mais antigo (até 1822).

Para coletar as informações que fazem parte da base de dados foram utilizadas principalmente fontes secundárias como bibliografias, estudos históricos e catálogos de bibliotecas. As referências dessas fontes secundárias também estão disponíveis na base de dados. Nesse caso, evidentemente, a data limite não é 1900 – pelo contrário, quase todas as obras secundárias são posteriores a essa data.

O trabalho de busca de informações utilizou inicialmente tanto obras secundárias de referência impressas (bibliografias, catálogos, estudos históricos) quanto consulta direta a bibliotecas e arquivos. Posteriormente, passaram a ser consultadas também bases de dados disponíveis através da Internet.

As obras de referência foram encontradas através de bibliografias de bibliografias, pela consulta a fichários de bibliotecas, ou através de citações em outras obras. Para a localização de bibliografias relevantes, foram utilizadas as bibliografias das bibliografias portuguesas e brasileiras de António Joaquim Anselmo, Antonio Simões dos Reis, Bruno Basseches e Jorge Peixoto.

Inicialmente foram consultadas as bibliografias portuguesas e brasileiras gerais mais conhecidas, como as obras de Diogo Barbosa Machado, Innocencio Francisco da Silva, Sacramento Blake, António Anselmo, Rubens Borba de Moraes, José Carlos Rodrigues, etc. Essas e outras obras foram examinadas sistematicamente, página por página, em busca de informações relevantes. Posteriormente foram utilizados catálogos de bibliotecas, catálogos de leilões, livros e artigos bibliográficos sobre temas específicos, enfim, qualquer material que servisse como fonte de informação bibliográfica.

Tomou-se, por exemplo, a cópia de uma bibliografia ou um catálogo de manuscritos e examinou-se com cuidado item por item, avaliando-se sua pertinência ao projeto e marcando-o. Esse trabalho foi feito pelo coordenador ou pelos bolsistas mais experientes. Depois, procurou-se cada um dos itens selecionados no banco de dados, para verificar se  já estava registrado. Se ele já existisse, as informações eram conferidas, sendo acrescentadas observações referentes a quaisquer discrepâncias notadas e adicionando-se a referência da nova obra pesquisada. Se o item não existisse ainda, era criado um novo registro e as informações eram digitadas.

Foram utilizadas cerca de 400 fontes bibliográficas para a pesquisa. É impossível garantir que foram localizadas todas as informações e que a base de dados está “completa”, porém, através de testes estatísticos, é possível estimar o ponto em que o trabalho se aproxima da meta.

Além das informações bibliográficas básicas (autor, título, local, editora ou gráfica, ano, número de páginas), a base de dados inclui informações sobre idioma, assunto, bibliotecas ou arquivos em que as obras já foram localizadas (no Brasil e Portugal), fontes de referência que citam a obra (com indicação precisa de página), existência de outras edições, etc.

 A Lusodat possui, aproximadamente, 93.100 registros de diferentes tipos, conforme discriminado abaixo:

 

 

Histórico

A base de dados Lusodat é um projeto que foi inicialmente desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) pelo professor Roberto de Andrade Martins e que, depois de ficar inativo durante mais de dez anos, foi retomado no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) sob a coordenação do professor Alfredo Tiomno Tolmasquim.

O primeiro impulso para o desenvolvimento do projeto Lusodat ocorreu no final da década de 1980. Em 1987 e 1988, a comunidade brasileira de História da Ciência se reuniu e organizou o plano de um Programa Nacional de História das Ciências e da Tecnologia (PRONAHCT) que foi depois submetido ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nessa ocasião identificou-se que um dos pontos prioritários para possibilitar o desenvolvimento da área era a criação de bases de dados com informações sobre documentos relevantes para a pesquisa em História da Ciência e da Tecnologia. Em 1988, o primeiro responsável pelo projeto, professor Roberto de Andrade Martins, começou a planejá-lo e a discuti-lo com outras pessoas. A coleta de informações se iniciou de fato em 1989, com o auxílio de uma bolsista de Aperfeiçoamento do CNPq, Maria Cristina Ferraz de Toledo, que começou a compilar os dados sobre livros científicos e técnicos portugueses publicados até 1822. A partir desse trabalho preliminar, foi possível perceber que o projeto era muito mais amplo do que se pensava inicialmente.

Inicialmente, as informações localizadas eram registradas em cartões manuscritos. Após se atingir um número de cerca de 2.000 fichas (grande parte delas repetidas), foram obtidos recursos para a criação da base de dados informatizada, através do apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A base de dados foi estruturada, em 1991, utilizando-se o programa CDS-ISIS desenvolvido pela UNESCO (e, depois, utilizando o WinISIS). A estruturação da base de dados foi desenvolvida pelo professor Roberto Martins, que contou com o auxílio de um bolsista de iniciação científica (CNPq), Fábio Luis de Oliveira Santos, em 1993 e 1994. O projeto foi desenvolvido no Grupo de História e Teoria da Ciência (GHTC) do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) da Unicamp.

No período de 1993 a 2003, o projeto Lusodat contou com a colaboração de vários bolsistas de Aperfeiçoamento (CNPq) e de Treinamento Técnico III (FAPESP): Gisele do Carmo Doratioto, Paulo Henrique Rangel Teixeira, Andréa Regina Sampaio Pereira, Poliana Monteiro Barreiro, Lucila de Sousa Piva, Ermelinda Moutinho Pataca, Fabiana Guariglia, Rosangela de Jesus Silva, Rachel de Almeida Viana e Diogo Siqueira Gomes. Também trabalharam no projeto, no mesmo período, diversos bolsistas de Iniciação Científica (CNPq) e de Treinamento Técnico I (FAPESP): Lourdes Isabel de Lira, Ermelinda Moutinho Pataca, Esperança Domingues Fernandez João, Alexandre de Medeiros, Bernardo Carvalho Lustosa, Cleuton ConceiçãoVieira Júnior, Juliana Mesquita Hidalgo Ferreira, Alan Victor Pimenta de Almeida Pales Costa, Aline Godois de Castro Tavares, Roberta Silvestre Silva.

O projeto Lusodat foi divulgado através de apresentações em congressos de História da Ciência, bem como pela publicação de dois artigos:

 

  1. MARTINS, Roberto de Andrade. Sources for the study of science, medicine and technology in Portugal and Brazil. Nuncius - Annali di Storia della Scienza 11 (2): 655-667, 1996.
  2. MARTINS, Roberto de Andrade. Building a bibliographical data-base on old science, medicine and technique in Portugal and Brazil. Quipu – Revista Latinoamericana de Historia de las Ciencias y la Tecnologia 11 (3): 311-332, 1994 [publicado em 1998].

Durante a maior parte do desenvolvimento do projeto, na Unicamp, só era possível consultar a base de dados presencialmente, ou fazendo solicitações por e-mail. Quando o trabalho foi interrompido na Unicamp, apenas uma pequena fração do projeto Lusodat estava disponível para consulta através da Internet: a parte referente aos livros publicados até 1822. Com a aposentadoria do professor Roberto de Andrade Martins, em 2010, a base de dados foi removida do servidor da Unicamp, ficando sem acesso público.

A totalidade dos dados que haviam sido coletados foi transferida posteriormente para o Museu de Astronomia e Ciências Afins, sendo migrado do antigo sistema WinIsis para o sistema ABCD por Roger Craveiro Guilherme em 2025.